Avaliação do solo

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A Embrapa desenvolveu um método diagnóstico para avaliar o impacto do uso de tecnologias na fertilidade do solo. A ferramenta consegue identificar fatores que limitam a produtividade e afetam a estabilidade de produção. A metodologia proposta foi validada em áreas agrícolas do Paraná, em parceria com a Cocamar Cooperativa Agroindustrial.

“Constatamos que os aspectos essenciais para aumentar a produtividade; garantir estabilidade de produção e reduzir os impactos ambientais decorrentes das atividades agrícolas estão relacionados à melhoria da fertilidade integral do solo (física, química e biológica), à cobertura permanente do solo e à adoção de diferentes práticas conservacionistas, como o terraceamento e o cultivo em nível, por exemplo”, explica o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Alvadi Balbinot Júnior.

O gerente executivo técnico da Cocamar, Renato Watanabe, conta que esse trabalho procura mostrar que ações adequadas de manejo de solo trazem mais segurança aos agricultores e contribuem para melhorar a qualidade do meio ambiente como um todo. “Quando pensamos em uma agricultura tropical, pujante e capaz de alimentar o mundo, sabemos que ela está diretamente ligada à qualidade dos solos, o que promove aumento de produtividade e redução de custos”, destaca Watanabe. “A sustentabilidade de todo o sistema de produção passa pela capacidade de realização de um plantio direto de qualidade, algo que, infelizmente, foi ‘simplificado’ pelos produtores, devido a alguns fatores, perdendo a sua essência”, afirma.

Os indicadores propostos na metodologia são o índice de qualidade estrutural do solo (IQES), que é determinado por meio do Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES) e a taxa de infiltração estável de água no solo. “Uma grande vantagem é que o método pode ser reproduzido por cooperativas, órgãos de assistência técnica e empresas para fazer uma análise ampla da qualidade do solo, identificando gargalos que dificultam o aumento da produtividade, da estabilidade de produção face à ocorrência de adversidades climáticas e da rentabilidade nas diferentes regiões em que atuam”, afirma Balbinot.

 Em busca do máximo potencial genético

De acordo com o pesquisador da Embapa Júlio Franchini, avaliações sobre a produtividade média da soja e do milho segunda safra, principais culturas agrícolas do Paraná, mostram que não atingem o potencial genético, principalmente, por falta de água para atender as necessidades das plantas. Em 16 safras (1999/2000 a 2014/2015), avaliadas no Paraná, Franchini estima que a ocorrência de secas ocasionou perdas de 20,8 milhões de toneladas de grãos de soja. “Há estudos mostrando que é de aproximadamente 85% a diferença entre a produtividade potencial e a observada na planta, devido à deficiência hídrica”, explica. “Isso significa que, mesmo em safras consideradas “normais” do ponto vista climático, a produtividade das culturas de grãos no Paraná tem sido limitada pela falta de água”, avalia o pesquisador.

Nesse sentido, Franchini destaca que o aumento da produtividade e a estabilidade de produção estão associados, em grande parte, à adoção de tecnologias que aumentem a disponibilidade de água às plantas. “Isso envolve a construção de um perfil de solo sem impedimentos ao crescimento radicular sejam eles físicos (compactação), químicos (acidez excessiva, com baixos teores de cálcio, fósforo e presença de alumínio tóxico) ou biológicos (fitonematoides e fungos fitopatogênicos), possibilitando assim um maior volume de solo explorado em busca de água, sobretudo nas camadas mais profundas”, explica Franchini.

Como foi desenvolvida a metodologia

 

 Para determinar o método, foram selecionadas 22 áreas agrícolas em 11 municípios do norte e noroeste do Paraná, sob Sistema de Plantio Direto (SPD), com diferentes modelos de produção, diversidade ou não de espécies vegetais e potencial de aporte de palha e raízes.

O método consegue fazer uma avaliação da propriedade a partir de duas frentes distintas. Em primeiro lugar, diagnosticar a qualidade do manejo e a fertilidade do solo (indicadores físicos e químicos) para identificar fatores relacionados ao solo que limitam a produtividade, a estabilidade de produção e a lucratividade. “Além disso, a metodologia consegue avaliar o impacto de modelos de produção, com maior diversidade de espécies vegetais e aporte de palha e raízes, sobre a fertilidade do solo”, detalha Balbinot

Para possibilitar as análises e comparações, as áreas foram classificadas em dois modelos de produção, adotado nas três safras que antecederam à amostragem. O modelo padrão caracteriza-se pelas sucessões milho segunda safra/soja e trigo/soja, sem cultivo de espécies vegetais para cobertura do solo. Por outro lado, o modelo aprimorado é aquele com maior diversidade de espécies vegetais ou maior potencial de produção e persistência de palha e raízes. “Vale destacar que a principal espécie de cobertura utilizada no modelo aprimorado foi a braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis), solteira ou consorciada com o milho segunda safra”, diz Balbinot.

Estrutura do solo: o melhor negócio

A melhoria da estrutura do solo, além de favorecer o crescimento radicular, proporciona maior taxa de infiltração e armazenamento de água disponível às plantas, bem como otimiza os fluxos de água, oxigênio e nutrientes do solo para as raízes, explica o pesquisador Henrique Debiasi. “Tanto o crescimento das raízes quanto os fluxos e o armazenamento de água disponível são beneficiados pela cobertura do solo com palha”, ressalta.

Em clima tropical, de acordo com o pesquisador, a temperatura máxima das camadas superficiais do solo sem cobertura pode chegar a mais de 50ºC, o que paralisa o crescimento e o funcionamento das raízes. “Há trabalhos relatando que o máximo crescimento radicular e área foliar da soja aos 40 dias após a semeadura ocorreu com temperatura média do solo de 28 ºC. O aumento para 34ºC reduziu em cerca de 40% tanto o crescimento radicular quanto a área foliar das plantas”, relata Debiasi. “A cobertura com palha reduz as perdas de água por evaporação até o fechamento das entrelinhas da cultura, aumentando a disponibilidade hídrica às plantas em até 40% durante esse período”, frisa o cientista.

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