A agenda de descarbonização cada vez mais presente nas economias globais passa, sem dúvida nenhuma, pelo esverdeamento da matriz de combustíveis líquidos, que atualmente representa apenas 4% do consumo global. A afirmação é da Consultoria Agro Itaú BBA, segundo a qual o desenvolvimento dessa nova indústria vai aumentar a “demanda por produtos agrícolas, notadamente grãos, tende a ser beneficiada estruturalmente no longo prazo”.
“Embora o exercício de realizar projeções seja bastante desafiador e haja ainda alguns obstáculos a serem superados (tecnológicos, custo e redução da intensidade de carbono), nos parece que a direção é de crescimento dessa indústria. Os investimentos já anunciados por players privados e os compromissos e incentivos oferecidos pelo governo norte americano, com destaque para o recente IRA (Inflation Reduction Act) nos levam a acreditar nisso”, dizem os analistas.
Como exemplo, nas nossas primeiras estimativas, apontam eles, considerando que apenas 30% da produção esperada de SAF nos Estados Unidos em 2050 seja produzida a partir de etanol de milho, a necessidade adicional do cereal seria de 150 milhões de toneladas. É válido destacar que o compromisso global de utilização de SAF no mesmo período é 3 vezes maior que o norte-americano.
“Efeito semelhante tende a ser sentido no mercado da soja, diante do esperado aumento da demanda por óleo, na esteira do incremento projetado da produção de biodiesel e diesel renovável. O reflexo mais provável dessa crescente indústria tenderá a ser a necessidade de um incremento da disponibilidade local de grãos, que deverá vir de uma combinação de esforços de aumento da produção local e/ou de uma redução das exportações”, projeta a Consultoria Agro Itaú BBA.
Para o primeiro evento acontecer, explicam, além de um aumento esperado de produtividade, provavelmente será necessário “estímulos de preços para fomentar uma expansão de área sobre outras culturas, frente a limitação de expansão total de terras do país. Do mesmo modo, uma redução do excedente exportável americano poderia colocar pressão no fluxo comercial internacional de tais produtos em períodos de aumento da necessidade dos mesmos para a produção de alimentos ou até do uso para fins de biocombustíveis. Isso também tenderia a influenciar positivamente os preços para estimular o avanço da oferta em outras origens”.
“Nesse contexto, o Brasil, com todo o seu potencial de crescimento de produção diante da vasta disponibilidade de áreas já antropizadas, possibilitando uma expansão da superfície de produção sem a abertura de novas áreas, em conjunto com as condições naturais favoráveis (precipitação, temperatura e luminosidade) tende a ser um dos grandes beneficiários desse cenário”, concluem os especialistas.
Fonte: Agrolink