Preços da soja devem manter tendência de queda na safra 2023/24

Os preços internacionais da soja devem ficar abaixo de US$ 13,00 o bushel se as previsões de uma grande produção na América do Sul, favorecidas pelas condições climáticas, forem confirmadas. Foi o que afirmou o Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras & Mercado, durante o primeiro dia da Safras Agri Week, evento online que vai até 21 de setembro.

Segundo o consultor, a produção mundial de soja deve crescer 8% na safra 2023/24, para 401 milhões de toneladas. Com isso, a expectativa é que os estoques mundiais do grão aumentem em 16%, para 119 milhões de toneladas. “Com mais soja sobrando no mercado, a tendência para preços é negativa”, comenta Roque.

Um dos fatores que devem impulsionar esse crescimento é a recuperação da safra sul-americana, após a quebra de 48% ocorrida na Argentina devido à falta de chuvas no último verão. Na safra 2022/23, os produtores argentinos colheram apenas 22,5 milhões de toneladas de soja.

Com a expectativa de boas precipitações devido à ocorrência do fenômeno El Niño, a colheita argentina deve crescer 92%, alcançando 48 milhões de toneladas, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

“Somente a Argentina deve colocar mais 25 milhões de toneladas de soja no mercado. Essa retomada do país vizinho deve reduzir a parcela brasileira de exportação de farelo e óleo de soja, e os prêmios brasileiros tendem a sentir pressão negativa”, afirma Roque.

Além disso, no Brasil, mesmo com o El Niño causando possibilidades de chuvas abaixo da média no Centro Oeste, Norte e Nordeste, a estimativa para a safra brasileira de soja é de uma nova produção recorde de 163,2 milhões de toneladas, alta de 4,5% em relação a 2022/23.

“Mesmo que o clima prejudique nessas regiões, dificilmente a produção brasileira ficará abaixo de 160 milhões de toneladas”, informa o consultor.

No caso de uma perda maior de produção nestas regiões, Roque acredita que os preços da soja poderão voltar para patamares acima de US$ 14,00 o bushel. O fator que atenua uma possível redução de colheita no Centro Norte do país é a recuperação da produção no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul.

Assim como na Argentina, o Estado sofreu uma quebra de safra no último verão, devido à falta de chuvas. Agora, como o El Niño trazendo fortes precipitações, a estimativa é que a colheita gaúcha cresça 62,5%, alcançando 21,6 milhões de toneladas.

Em relação à área plantada, Roque espera um ritmo de crescimento menor do que nos últimos anos, com um incremento de apenas 2,5%, alcançando 45,6 milhões de toneladas.

“Esse aumento será reduzido porque as margens de rentabilidade estão mais apertadas com os preços atuais, e devem seguir dessa forma. No entanto, a soja segue oferecendo uma rentabilidade maior frente a outras culturas, como o milho, que até apresenta margens negativas em algumas regiões, o que segue incentivando o plantio”, afirma.

Comercialização

O consultor da Safras & Mercado destaca que outro fator que vem impedindo uma alta dos preços da soja no Brasil são os grandes estoques e o atraso recorde na comercialização da safra 2022/23. Após uma colheita recorde de 156,15 milhões de toneladas de soja, o Brasil deve fechar 20233 com um estoque de 8,127 milhões de toneladas, um crescimento de 118% em relação a 2022 (3,7 milhões de toneladas).

“Dificilmente os preços resistiriam a estoques tão altos”, comenta Roque.

Além disso, os produtores apresentam um recorde em atraso de comercialização. No início de setembro, segundo a Safras & Mercado, apenas 80% da safra colhida estava comercializada, enquanto a média histórica para o período é de 88%.

“Represar a oferta também joga contra o preço, porque uma hora todo mundo vai acabar vendendo ao mesmo tempo para liberar espaço para a nova safra, jogando o valor para baixo”, explica.

Um fator atenuante é a tendência de exportação recorde. De janeiro a setembro, os embarques acumulados somaram 88,4 milhões de toneladas. No mesmo período de 2022, os volumes foram de 70 milhões de toneladas.

“Tomamos uma parcela da exportação argentina, e também acabamos exportando para a Argentina, que precisou comprar soja brasileira para atender seu mercado de esmagamento. Se não fosse essa exportação tão forte, teríamos ainda mais soja disponível para baixar os preços”, afirma Roque.

Para 2024, o consultor estima que as exportações brasileiras podem chegar a um novo recorde, de 99 milhões de toneladas. Já os estoques finais brasileiros são estimados em 13,8 milhões de toneladas, alta de 70%.

Safra nos EUA

Em relação à safra norte-americana, que já apresenta 5% da área colhida, Roque afirma que o mercado já precificou uma queda de produção, e os resultados não devem alterar a tendência de baixa das cotações, que passam a olhar para as expectativas da colheita na América do Sul.

Segundo o último relatório do USDA, é estimada uma produção de cerca 116 milhões de toneladas nos Estados Unidos. Dentro da área produtiva, de 83,5 milhões de acres, 52% das lavouras são consideradas em condições boas ou excelentes, contra 55% neste mesmo período na safra passada. “Esta deve ser a menor safra nos Estados Unidos desde 2019/20. No entanto, ela ainda é volumosa, e a entrada da colheita norte-americana impede os preços de ganharem fôlego no momento”, explica Roque.

O consultor espera que, com o avanço da colheita, o relatório do USDA de outubro traga um novo corte de produção nos EUA. Além disso, a estimativa para os estoques norte-americanos é de uma queda de 12%, para 5,987 milhões de toneladas, menor nível desde 2015/16.

“Mas o mercado já precificou essa redução. Dificilmente novos fatores na safra norte-americana podem puxar os preços da soja para cima”, afirma.

Fonte: Globo Rural

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