Produção sustentável, avanços na atividade agropecuária e desafios para o futuro foram destaque no Fórum do Agronegócio

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“A agricultura brasileira é uma história de sucesso para o mundo”. Foi assim que Rattan Lal iniciou sua conferência na abertura da 4ª edição do Fórum do Agronegócio, realizada pela Sociedade Rural do Paraná, no Parque Governador Ney Braga, em Londrina (PR), nesta segunda-feira (18). O renomado cientista, Prêmio Nobel da Paz (2007) e Prêmio Mundial da Alimentação (2020), destacou o crescimento do agronegócio no País, que saiu de importador de alimentos na década de 1960 para maior exportador de alimentos do mundo nos últimos anos. “Esse é um dos desenvolvimentos mais importantes da história mundial moderna”, acrescentou o cientista. O evento debateu o protagonismo do Brasil frente à produção sustentável de alimentos no mundo, por meio de painéis e palestras com cerca de 20 lideranças e autoridades do setor que falaram dentro da temática “Produzir e Conservar”.

Mesmo com a recente história de sucesso do Brasil, Lal aponta que há problemas que não podem ser ignorados, entre eles a degradação do solo, o uso excessivo de água, a poluição. Essas e outras questões, acrescenta o cientista, podem sim ser relacionadas às mudanças climáticas e é urgente garantir que, principalmente a degradação do solo, sejam controladas. “É preciso tornar a agricultura amiga do clima. Como? Adotando a agricultura regenerativa, cuidando da forma como os alimentos são produzidos e consumidos, por meio do uso controlado de defensivos”, exemplificou.

Lal citou ainda algumas medidas de “agricultura positiva para a natureza” que podem ser adotadas, a exemplo do que já acontece no Brasil, como a produção de combustível a partir da cana-de-açúcar. Ressaltou que o caminho para produzir mais alimentos e poder atender à crescente população mundial em poucos anos, reduzindo ou minimizando os danos ambientais, passa por uma agricultura conservacionista, regenerada e agroecológica. “Devemos trabalhar com a natureza e não contra a natureza”.

Na esteira do processo exemplar que o Brasil tem feito, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, lembrou que o País vem caminhando nos últimos 50 anos para se tornar um grande provedor de alimentos no mundo por meio da adoção de tecnologia. “A capacidade e a aptidão dos nossos produtores de introduzirem novas tecnologias foram a grande revolução feita pela agropecuária brasileira”, frisou. “Mas não vamos viver olhando para o passado. O nosso desafio é pensar para os próximos 50 anos”, pontuou Fávaro, citando que a produção e produtividade cresceram exponencialmente nas últimas décadas no território brasileiro com apoio da tecnologia, mas a diferença é que agora é preciso que o crescimento se faça sem o avanço do desmatamento.

O ministro destacou ainda a rastreabilidade como uma das melhores práticas para se incorporar, citando o mercado do algodão que está estável no mundo, mas registra avanço da produção e da comercialização brasileira. “Onde está o segredo? Temos rastreabilidade. A fruticultura faz isso muito bem, o café vem fazendo, muitos já fazem com as carnes. A garantia de todos os procedimentos chega ao consumidor e ele paga por isso”.

Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, presidente da Embrapa, elencou o trabalho de diversas unidades da Embrapa e registrou que a sustentabilidade está no DNA da pesquisa agropecuária. A expansão de área plantada, de produção e produtividade que o Brasil alcançou nos últimos 50 anos foi baseada em ciência e tecnologia. “Impacto econômico, ambiental e social são três dimensões da sustentabilidade que estão no nosso DNA”, reforçou Silvia, concordando com o ministro Fávaro de que não basta apenas olhar pelo retrovisor, o foco precisa estar à frente, mas para isso é preciso dados, informações e indicadores.

“Só dessa forma vamos conseguir mostrar para o mundo o quanto somos sustentáveis”, salientou. Ela destacou que a empresa já conta com grupos de trabalho que estão levantando indicadores de sustentabilidade, entre eles metas de carbono. Ressaltou ainda que, hoje, é preciso realmente olhar para o novo consumidor que está muito mais preocupado com nutrição, saúde, origem dos alimentos e transparência em processo de produção. “A rastreabilidade é outro trabalho que estamos desenvolvendo na Embrapa”, adiantou.

Ao lado de Silvia e de Fávaro no painel “Alimentos, fibras e energias renováveis: a integração das cadeias produtivas, a demanda por investimentos e as práticas sustentáveis”, o presidente da Associação Brasileira de Criadores de ZEBU (ABCZ), Gabriel Garcia Cid, corroborou a fala do ministro, destacando que a entidade tem como pauta o estímulo a práticas sustentáveis de produção, aliadas a uma gestão eficiente. Dessa forma, acrescentou, que todo produtor consegue produzir mais e melhor e em menor área e menos tempo.

Marcelo Janene El-Kadre, presidente da Sociedade Rural do Paraná, integrou os debates da segunda mesa-redonda do evento, que abordou a “Resiliência dos sistemas alimentares: fortalecer do local para o global”. Na sua opinião o Brasil é muito bom no que faz e precisa falar para o mundo. “No nosso País temos condições favoráveis, clima, áreas externas, áreas degradadas que podem ser melhoradas e principalmente temos o produtor brasileiro, que não se encontra igual no mundo”, enalteceu.

Ressaltou que é preciso olhar para os problemas que estão acontecendo, a exemplo das mudanças climáticas que podem reduzir até 17% a produção de alimentos, e se atentar ainda mais para programas de boas práticas, como o Lavoura-Pecuária-Floresta. Ainda pontuou sobre a fome e o desperdício de alimentos no Brasil e no mundo, “que beira o absurdo”. Em 2019, lembrou El-Kadre, dados da ONU mostraram que o mundo registrou o desperdício de cerca de 930 milhões de toneladas de alimentos. O uso excessivo de defensivos, prejudicando solo e água, foi outro ponto de alerta. Soluções, indicou ele, passam pelo desenvolvimento de redes, capacitação e investimento.

Refletindo sobre a resiliência do setor, o secretário de Agricultura e Abastecimento do estado do Paraná, Norberto Ortigara, destacou desafios e oportunidades, e indagou sobre como será possível chegar até o consumidor do futuro, lembrando que a atividade agropecuária diz respeito ao básico: produção de alimentos, nutrição e preservação ambiental. “Tudo o que a gente faz para produzir ainda melhor, usando menos recursos do bolso e da natureza, qualifica nosso negócio”, garantiu.

A terceira mesa-redonda do Fórum trouxe o debate sobre “Futuro alimentar sustentável: o Brasil e a produção de alimentos frente ao mundo” e chamou a atenção para ações do campo à indústria. Rafael Zavala, representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), propôs o desafio de se pensar a produção a partir do conceito de bioeconomia e traçar estratégias para reduzir a dependência de insumos a mais de 10 mil quilômetros de distância.

Zavala ainda alertou que hoje a segurança alimentar está “sob uma tempestade perfeita”, o que amplia diretamente as causas da fome no mundo: Conflitos armados, choques econômicos, choques climáticos, choques sanitários. Por isso, segundo ele, a necessidade de se pensar em produzir, com menos agressão ao meio ambiente, principalmente. “A boa notícia é que temos a tecnologia como aliada”.

O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, concordou sobre a necessidade de produzir alimentos, mas atentou que mais que produzir é preciso ter claro o que é preciso levar para a mesa da população mundial. Nesse sentido, pontuou sobre o crescimento da população em regiões menos desenvolvidas, como a África, destacando os hábitos de dietas em relação à renda de cada local. “Nos países menos desenvolvidos necessitam mais de grãos, raízes, arroz e feijão. Nos mais desenvolvidos, de produtos funcionais. Precisamos ter isso em mente para saber o que produzir e qual alimentos levar para cada região”.

Processos agrícolas

O economista, engenheiro agrônomo e especialista em agronegócios no Brasil, Alexandre Mendonça de Barros, fechou a programação do Fórum com a palestra “O futuro sustentável do agronegócio e a integração das cadeias produtivas” e pontuou que é preciso olhar para a produção sob o ponto de vista da sustentabilidade, da economia e das questões sociais.

Ele também chamou a atenção sobre a organização dos processos agrícolas que estão mudando muito nos últimos anos, no sentido de importação e exportação. O economista alertou para esse movimento no processo de estocagem de alimentos, lembrando que os estoques estão baixos e qualquer situação pode gerar um rápido desequilíbrio na venda de alimentos.

Fórum

Além do ministro da Agricultura e Pecuária, o Fórum do Agronegócio recebeu a participação do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, do governador Ratinho Junior, do senador Sergio Moro, do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion, além de deputados federais e estaduais. 

Também participaram mais de 20 lideranças que são referências na cadeia agro: o cientista indiano Rattan Lal, o presidente da Associação Brasileira de Criadores de ZEBU (ABCZ), Gabriel Garcia Cid, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Sérgio Bortolozzo, a presidente da Embrapa, Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, a diretora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), Thais Maria Ferreira, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, o diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), Alexandre Novachi, o diretor na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, o diretor do Centro de Excelência contra a Fome e representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil, Daniel Balaban, o coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV (FGV Agro), Guilherme Soria Bastos, o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Marcelo Janene El-Kadre, o diretor de Produção Sustentável e Irrigação do MAPA, Bruno Brasil, o presidente do Conselho Agronegócio COSAG-FIESP, Jacyr Costa Filho, o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, o representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Rafael Zavala, a presidente da SL Alimentos, Roberta Meneghel, o líder de Nutrição da Unilever Brasil, Rodrigo Visentini e o engenheiro agrônomo e economista, Alexandre Mendonça de Barros. A moderação dos debates foi conduzida pelos jornalistas Fernando Lopes (editor do InfoMoney), Cassiano Ribeiro (editor do Globo Rural) e Vera Ondei (editora da Forbes Agro).

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