Há exatos 50 anos, o Paraná amanhecia sob o silêncio gelado de um desastre agrícola sem precedentes. Na madrugada de 18 de julho de 1975, a Geada Negra atingiu violentamente as lavouras do estado, destruindo plantações, especialmente de café, e deixando marcas profundas na vida rural paranaense.
Na época, o café era o pilar da economia regional, e a cidade de Londrina era reconhecida como a Capital Mundial do Café. A Sociedade Rural do Paraná (SRP), que já atuava como entidade representativa do setor produtivo, viveu de perto a dor e a transformação trazidas pela geada. Associados e lideranças da SRP perderam lavouras, viram colônias se esvaziarem e acompanharam um êxodo rural que redesenhou o território e a economia da região.
A tragédia, no entanto, também marcou o início de um novo capítulo para a agricultura paranaense. Nos anos seguintes, com incentivos do governo federal, o setor buscou alternativas sustentáveis e viáveis, como o cultivo de grãos e a modernização das propriedades rurais. A diversificação da produção pavimentou o caminho para o modelo agrícola avançado que o Paraná ostenta hoje.
Entre os milhares de atingidos estavam famílias como a do presidente da entidade, Marcelo Janene El-Kadre, neto de cafeicultores que chegaram a Londrina movidos pela força do café. "Foi um frio que matou a lavoura e congelou a esperança de muita gente. A reconstrução foi sofrida, mas marcada por uma enorme capacidade de resiliência. A Sociedade Rural do Paraná teve papel fundamental nesse processo apoiando tecnicamente os produtores. Hoje, seguimos esse legado. Trabalhamos para fortalecer o agro em todas as suas dimensões."
A geada de 1975 ficou marcada como um dos principais fatores que levaram ao fim da agricultura cafeeira no Paraná. Contudo, essa não foi a única geada a impactar o setor. Em 1953, outra forte geada causou prejuízos, mas foi encarada como um estímulo ao progresso, sem interromper o desenvolvimento da cafeicultura. Em resposta a essa tragédia, a Sociedade Rural do Paraná criou, em 1954, a primeira feira agrícola. “Essa foi uma entre várias medidas adotadas pelo governo, empresas e autoridades locais para impulsionar o crescimento econômico”, destaca a historiadora da SRP, Rúbia Fernandes.
Relembrar essa linha do tempo de transformações não é apenas olhar para o passado com pesar, mas reconhecer a identidade do agro paranaense.
SRP prepara espaço para máquina histórica de café
Como forma de preservar e valorizar a história que moldou o Norte do Paraná, a Sociedade Rural do Paraná está desenvolvendo um projeto para abrigar a histórica máquina de café, retirada do antigo Terminal Metropolitano, que foi recebida por doação do Estado. O equipamento, símbolo da força cafeeira que impulsionou a região, será instalado em um espaço aberto à visitação e estará conectado ao Museu da SRP e ao Aquário de Londrina, criando um novo ponto de cultura e memória viva do campo.