Preço do leite segue em queda, enquanto importações aumentam

O preço do leite cru seguiu em queda nos últimos meses, pressionado sobretudo pelo aumento das importações e pela desvalorização dos lácteos. Ao mesmo tempo, os custos de produção subiram, colocando mais pressão sobre as finanças dos produtores, segundo o Boletim Mensal do Leite divulgado nesta terça-feira (26/9) pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP.

Em julho, na média do Brasil, o preço do leite ao produtor chegou a R$ 2,4142 o litro em julho, recuos de 5,69% frente ao de junho e de 35% na comparação com julho de 2022, em termos reais (as médias foram deflacionadas pelo IPCA de julho de 2023). Trata-se da terceira queda mensal consecutiva.

E pesquisas em andamento do Cepea apontam para a continuidade desse movimento baixista em agosto. A expectativa é de que o recuo ocorra em intensidade próxima da observada em julho.

A pesquisa do Cepea, elaborada em parceria com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), indica que, em agosto, no Estado de São Paulo, houve quedas nos preços médios do leite UHT (-5,27%), do queijo muçarela (-2,97%) e do leite em pó fracionado (-2,85%) em relação ao mês de julho. Na comparação com o mesmo período do ano passado, os preços caíram quase 30%, em termos reais.

Considerando-se a média do país, também houve baixas nas cotações do leite pasteurizado (-2,04%), do queijo prato (-3,31%) e da manteiga (-0,97%) em relação a julho.

Tentando driblar o baixo consumo, os canais de distribuição elevaram a pressão nas negociações com os laticínios por preços mais baixos, desencadeando em desvalorizações dos derivados em agosto. De acordo com os agentes de mercado consultados pelo Cepea, a disponibilidade interna de lácteos aumentou em setembro, resultando na continuidade da baixa dos valores dos produtos lácteos.

Na primeira quinzena do mês, houve queda nos preços médios do leite UHT (-4,29%), do queijo muçarela (-1,64%) e do leite em pó (-4,41%) frente às médias de agosto.

Importações

Já as importações seguiram estimuladas pelos preços mais competitivos. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as compras externas cresceram 6,1% de julho para agosto, somando 196 milhões de litros em equivalente leite.

Com isso, a disponibilidade interna de lácteos tem se mantido alta e pressionado as cotações ao longo da cadeia – o que fortalece a perspectiva de que os preços no campo tendem a seguir movimento de queda para setembro.

As compras de leite em pó, que representaram 78,5% do volume total importado, cresceram 3,14% em agosto frente a julho, somando 153,6 milhões de litros em equivalente leite.

Os principais fornecedores desses produtos ao Brasil em agosto foram Uruguai e Argentina, que, juntos, forneceram 86% do total. Na média, os leites em pó foram adquiridos a US$ 3,42 o quilo, 8,8% inferior à média de julho. Em comparação, a média de preço do leite em pó exportado pelo Brasil em agosto foi de US$ 8,27 o quilo.

Custos de produção

Entretanto, ao contrário de meses anteriores, os custos de produção não caíram em agosto. A pesquisa do Cepea mostra que houve leve alta de 0,25% no Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira na média Brasil, puxado pelas valorizações ocorridas nos concentrados e nos adubos e corretivos.

Contudo, como a retração da receita superou a variação dos custos, o poder de compra do produtor frente aos insumos caiu. Segundo o Cepea, esse cenário desperta preocupações para o setor, tendo em vista que a progressiva perda na margem do produtor pode diminuir os investimentos na atividade neste curto prazo, o que pode prejudicar também o potencial de oferta nacional.

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